Vivendo intensamente...

Diário de bordo do mundo da Fernanda Micky.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Aventuras Patagônicas parte II

Voo de Ushuaia pra El Calafate:

Assim que o  voo ganhou altitude, da janela naquela linda manhã de segunda, podia ver a pequena Ushuaia ficando pra trás. E podia ver onde começava o Glaciar Martial, uma bela visão.
Ouvindo New Model Army, me inspirava nas músicas e letras, estava um pouco ansiosa para chegar em El Calafate. Era uma viagem rápida e eu simplesmente não conseguia tirar os olhos daquelas vistas extraordinárias. Lanche servido, bolsinha da cia área indicava mais uma vez que a Patagônia quer proteger sua natureza tão frágil e fazem da reciclagem e redução de danos uma coisa bem séria.


(Vista do avião antes do pouso)


Chegada em El Calafate:
(Estrada de El Calafate vista do avião)

O avião começou a descer lentamente e eu já enxergava aquele ar desértico da terra de Santa Cruz, vi pela janela a estrada na qual eu peguei uma tempestade de neve na primeira vez que fui a El Calafate. Naquele dia estava iluminada pelo sol e tão dourada como ouro.
Pouso perfeito, estamos em terra, pego minha mala que parece cada vez mais pesada, apesar de eu não comprar nada durante a minha estadia em Ushuaia, talvez eu só esteja cansada.

(Sombra do avião onde eu estava antes de pousar no aeroporto de el calafate)

Controle de alimentos bem na saída, sou a última a passar. Procuro a agência de transporte que me levaria ao Hostel. Meu nome sobrenome estava escrito em uma placa na porta, confirmo que sou eu, pego o voucher e vou para fora do aeroporto onde uma van com um colorido carrinho preso atrás leva as malas dos passageiros. 
Percebo um casal falando em português, não é tão difícil encontrar brasileiros pela Patagônia, puxo assunto, mas eles não parecem muito interessados e só desejo boa estadia. Na van somente eu, mulher, sozinha, entre vários casais e começo a pensar como estou feliz em viajar sozinha.
Sou a primeira se deixada pela van, reconheço já a rua e me preparo para descer. Chego ao Hostel America Del Sur, sou recebida pelo simpático paraguaio Patricio, o qual eu conheci em 2010, mas ele não lembrava de mim. Check in feito, banho tomado, tenho fome e resolvo sair para aproveitar o dia que estava lindo. Converso um bom tempo com o Patricio sobre várias coisas, tenho curiosidade de saber como é viver em uma cidade tão pequena. Ele me conta suas aventuras no Hawaii, planos, visitas ao Brasil. 
Eu adoro El Calafate, me sinto em casa, apesar de seus carros serem os mais poluentes que eu já vi. Pra variar chego na hora da siesta, mas acho que em El Calafate tudo fecha nesse horário, porque todos os turistas estão em seus tours e só retornam no final da tarde. Almoço no mesmo restaurante que fui uma vez, tem brasileiros ouvindo o tal do "Tcherere...", musica dos infernos, mas não posso ir para outro lugar, tudo fechado, resolvo checar as fotos que tirei em Ushuaia, enquanto espero meu bife de chorizo ficar pronto.
Comida na mesa, como o mais rápido possível, pois começo a sentir o cansaço bater e quero logo deitar.

(Uma espécie de pássaro  do tamanho de um cachorro fazendo zona na pequena cidade)

Comida total de $80, muito caro, sim, mas é o preço normal de El Calafate.
Estava tendo uma manifestação cultural na praça da cidade, mas não tenho mais forças para nada, fora que antes eu bati com a minha canela em um compensado e estava doendo horrores, fiquei com o cartão preso dentro da máquina do Banco que já estava fechado, mas consegui recuperar, já tinha tido emoções o suficiente.
Volto para o hostel e resolvo dormir um pouco.


(Hostel onde eu fiquei em El calafate)

Acordo e dou uma volta pelo hostel, como alguns biscoitos e empanadas que comprei no mercado, mas logo volto a dormir, minha perna dói intensamente e começo a sentir a gripe querendo chegar, amanhã faço alguma coisa.

El Calafate de Bicicleta:
(Passeio pelo lago com a Bike alugada)

Acordo e vou tomar café, já no final do horário, ainda não sei o que vou fazer, acho que apenas fotografar a cidade. Converso mais um pouco com o Patricio e digo que acho que vou para o centro e alugar uma bicicleta, mas para a minha sorte ele tem uma lá exatamente para alugar. Vou no quarto e preparo a mochila. Quando estou saindo, a minha nova amiga sul coreana que dividia o quarto comigo em Ushuaia chega e nem acredito, ficamos feliz de nos encontrar, ela vai descansar e eu vou pedalar.
A última vez que andei de bicicleta foi em El Calafate, dois anos atrás. Mas como dizem que "é como andar de bicicleta" no inicio me sinto meio insegura com as pedras e rua de terra batida, mas resolvo testar meus limites e descer a rua que é bem ingrime, em cima da bicicleta. Como sempre estrategista, penso logo em uma maneira de sair da bicileta caso fosse necessário por causa dos carros ou como cair se caso eu derrapasse. Checo os freios e vou.
Desligo essa ideia e simplesmente começo descer a toda velocidade, controlando os freios, é bem ingrime mesmo, mas estou indo bem, fico até emocionada e rindo por causa disso. Pego a direita a toda velocidade e vou em direção a Laguna.
Posso em frente ao cemitério, museu dos dinossauros, já estive lá antes, mas cogito a ideia de volta. Continuo como se estivesse voando em direção a Laguna, está tudo diferente, pavimentaram a estrada e agora é necessário pagar $25 para entrar. Me recuso, e vou beirando o lago por fora, até encontrar uma boa vista. Fico por lá, sozinha, com o vento soprando forte e aquela luz dourada me iluminando em meio ao tempo nublado.
Quando um casal começa a se aproximar, eu saio, como um pássaro incomodado.
(Amanhecer no lago argentino)

Vou passeando e começo a sentir fome, lembro de outro restaurante em que eu estive dois anos atrás e resolvo comer lá.
Na televisão mais um jogo de Hubby, e claro, a seleção argentina jogando.
Peço um Bife de cordeiro com batatas doce fritas, vem junto um copo gigante de pepsi, entrada pães e pasta de beringela e no final uma sobremesa divina, panqueca com o dulce de leite, tudo por $80 pesos.
Demorei umas 2 horas pra comer tudo, mas foi excelente, apesar do preço.
Andei mais um pouco pela cidade, queria tomar um sorvete, mas estava cheio o lugar. De volta ao Hostel, fui dormir e acordei antes do sol se pôr. Eu iria sair para fotografar, mas desisti por causa do vento gelado e voltei para o quarto, fiquei conversando com a Soyoung. Lembro que preciso ir ao mercado comprar mais coisas e vamos juntas. Na volta eu tomo um sorvete de Calafate, que delicia, talvez o melhor sorvete que experimentei em toda a minha vida. A menina que me atende fica muito feliz quando digo que sou brasileira e me faz inúmeras perguntas. Muito curiosa sobre como é a vida lá fora. Ela arranha um pouco de português e fica muito feliz quando eu digo que ela está falando como uma brasileira. Me senti muito feliz vendo os olhos dela brilhando com o meu elogio.
A noite no hostel conheci um menino chamado Alex ele é da Irlanda que trabalha no hostel por um tempo e ficamos conversando sobre bebidas, porque eu queria tomar uma cerveja, mas lá só vendem a garrafa de 1 litro. Ele me indica um restaurante no final da rua onde vendem cerveja artesanal. Apenas alguns passos e estou em um belo restaurantes, porém as moscas. Sento no balcão e a dona do restaurante me dá várias provas de cervejas artesanais e escolho a minha. Preços variando de $26 a $36 dependendo se é estilo chopp ou long neck.
De volta para o hostel e um pouco alta, hora de dormir, amanhã tem Glaciar.
(Pub escondido e vazio)

Glaciar Perito Moreno:
(Glaciar Perito moreno visto da estrada)

Como não fiz a reserva no hostel, acordo bem cedo para tomar café e correr para a rodoviária. Mochila abastecida faço minha caminhada na manhã gelada de El Calafate às 7h30 da manhã.
Compro a minha passagem na rodoviária $100 e aguardo até a hora do ônibus sair, pontualmente às 9h da manhã. Não saiu cheio, afinal é baixa temporada.
O caminho é simplesmente espetacular, acho que todos no ônibus estão de boca aberta como eu, que por um momento paro de fotografar e relaxar apreciando aquelas paisagens fora do real.
(Estrada para o Glaciar Perito Moreno)

O ônibus faz uma parada na entrada do parque e um rapaz sobe para cobrar a entrada, turistas do Mercosul pagam $70 pesos, ele pergunta de onde você é primeiro.
(Entrada do parque)

A entrada do parque é bem longe do Glaciar e todos são obrigados a parar lá antes de continuar. Esse ingresso não será cobrado na entrada das passarelas.
O ônibus faz a parada  no porto de onde sai os passeios de barco para ver o glaciar de perto, é opcional. Dura 1 hora e se não quiser ir, pode ficar esperando no ônibus. Mas normalmente todos vão.
O passeio custa $100 e normalmente sai lotado dependendo do barco.
Na outra vez saiu vazio, dessa vez mesmo na baixa temporada estava abarrotado.
(Barco do passeio pelo lago)

O tempo não estava muito bonito, mas deu pra apreciar a vista apesar de muito cheio e turistas afobados por uma boa foto e um bom ângulo.
De volta ao ônibus que já havia passado pelas passarelas antes pra fazer hora, voltamos e é onde ficaremos até às 16h, hora que ele virá nos buscar.
Tem um restaurante e banheiros, mas cuidado com o seu lixo, lá não há lixeiras nas passarelas ou fora do restaurante, você precisa voltar com seu lixo para El Calafate.

Passarelas:
(Palhaçada nas passarelas)

As passarelas para apreciar o Glaciar tem vários níveis e extensões, é preciso ficar atento ao mapa pra saber se você terá folego e tempo para ir e voltar.
Algumas levam 1 hora e meia só pra ir, são bem compridas e cansativas, lembre-se que você vai descer e subir vários degraus.
As que tem a vista de frente sem dúvida são as melhores, mas vá para todos os lados que puder.
Se tiver sorte verá o gelo se desprendendo e caindo na água, o som é emocionante, desde a rachadura, queda e o balanço da água.
Esteja atento a hora para não perder o ônibus.
(Nova amiga na jornada)

Voltamos no horário combinados e acho que todos assim como eu, dormiram na volta para El Calafate.
Leva mais ou menos 1h até a cidade.
Chegamos por volta das 17h e o ônibus nos deixa na rodoviária. Descemos pela escadaria que da na feira de artesanato, vale apena dar uma olhada e se tiver dinheiro sobrando comprar alguma lembrança.
Estava tudo muito caro, uma pena essa inflação.
De volta ao Hostel, banho tomado, vou pagar logo a minha estadia no hostel, mas para a minha surpresa o meu cartão não passa, por um pequeno detalhe, ele é VTM e eles efetuam o pagamento online e não com aquelas maquinas de cartão de crédito. O que me obriga a voltar ao quarto, colocar muitas roupas e ir até o centro tentar sacar dinheiro, já que eles não aceitam reais e não tenho dinheiro suficiente para pagar.
Corro até ao banco, eram 21h00 sem saber se estaria aberto, mas pra minha sorte estava e consigo sacar o dinheiro.
Fiquei muito chateada com o fato que tive que ir até ao centro quando já estava pronta para dormir e a menina da recepção achou que eu daria um calote nela quando ela disse que meu cartão não passava, mas de outros sim. E ela ainda fica chateada por eu não dar a gorjeta depois do comentário sarcástico infeliz dela, ah vá!
Os meninos que trabalham no hostel são excelentes, mas as meninas deixam a desejar...talvez seja ciume das brasileiras, pode ser...e devem ter.


Hora de dizer tchau:

Acordo bem cedo e como já tinha deixado tudo pronto na noite anterior, só checo se não esqueci nada.
Vou para a recepção e encontro o paulista Leandro que conheci em Ushuaia.
Ficamos conversando sobre o que eu fiz, o que ele iria fazer, onde fomos, e um casal brasileiro entra na conversa. Falamos sobre os pontos positivos e negativos dos lugares.
Hora de dizer tchau, a minha nova amiga soyoung foi para El Chaltén mais cedo e acho que essa será minha última vez em El Calafate. Mesmo adorando nem sei porque essa pequena cidade, fico feliz por ir embora e ter outras experiências, sair do frio e falar português novamente. O Transfer passa meia hora atrasado.
Voos tranquilos, lembrando que em El Calafate você também paga a taxa de $38 no aeroporto. O transfer foi o mesmo da ida, tudo pago no hostel.
A vista dos icebergs passando pelo Lago argentino enquanto espero o voo é uma coisa que não tem como explicar. E foi uma sorte pegar esses voos pela manhã e com sol. Lindas vistas, uma linda despedida.
Buenos Aires me espera....

            (Icebergs vistos do aeroporto de El Calafate)



terça-feira, 9 de outubro de 2012

Aventuras Patagônicas

Maratona até Buenos Aires:

No dia 13 de Setembro de 2012, sai de casa às 22h30 em direção ao Aeroporto Galeão. Check in online feito lá mesmo, despachei as malas, comprei uma revista e sentei em um canto do aeroporto onde eu podia carregar meu celular.
Na hora prevista para o embarque, entrei ...Checo o voo e...nada...passa um tempo e...atrasado, passa mais um tempo e..."procure a cia aérea". Me bateu o desespero de perder a minha conexão em Buenos Aires e ter que gastar dinheiro para ir pra casa e voltar para o aeroporto, são quase 70 reais de táxi.
Uma hora depois pelo menos 40 pessoas estão aguardando alguma informação da Austral Airlines, quando vem uma funcionaria da Aerolineas Argentinas que é logo rodeada por todos nós. Era a mesma que tinha feito o despacho da minha mala.
Ela nos diz que o avião teve um problema e que o piloto resolveu não decolar por motivos de segurança.
Todos ficam histéricos cada um com um motivo; conexões, provas, trabalhos, teste de artistas, família, mas o que parecia pior eram as pessoas que estavam indo para Austrália e que só teriam voos disponíveis pela cia na segunda-feira. Era uma sexta de madrugada.
Já conformada e na espera do que teria que fazer, peguei o meu voucher e fui comer alguma coisa.
Uma hora depois a mesma funcionária veio me dizer que estávamos programados para o voo que sairia as 6h30 da manhã. Estava no aeroporto desde das 23h da noite e olho pra ela com um olhar de quem se conformava com a merda, mas com pesar. Me restava botar fé que a viagem continuaria.
 O voo saiu no horário previsto, agora mais cheio. O que levou muitos a acreditar que o nosso voo não saiu por estar vazio.
(Buenos aires vista do avião antes do pouso)

Minha conexão foi reprogramada então eu teria apenas 1h pra fazer tudo em Buenos Aires não podia atrasar novamente. Pousamos em Buenos Aires após um chata turbulência bem na hora de pousar, eu achei que o avião fosse virar com a força do vento.
Em solo e com segurança, perco um tempo na imigração e para pegar a mala, preciso fazer tudo correndo porque ainda tenho que fazer novamente o check in para Ushuaia. Aeroparque completamente abarrotado e bagunçado, todo quebrado, não lembrava dele tão feio.
Corro junto com um casal para fazer o check in, desesperados pelos corredores do aeroporto, com malas e pranchas de Snowboard e pedindo "licença", ainda não tínhamos entrado no espírito Argentino.
Estamos desesperado com o horário e o funcionário da aerolineas diz que tudo bem, temos tempo. Eles sabiam que nós chegaríamos em cima da hora por conta do atraso no Rio de Janeiro.
Check in feito, hora de relaxar, entrei logo na área de embarque e comprei alguns alforjo, levei um susto com o preço $ 9 pesos.
Ok, chamado para o embarque, enfim vamos nós!!!
Uma certa ansiedade toma conta de mim, mas vamos lá.
Voo tranquilo mas estou bem cansada para fotografar e durmo rápido, são 24 horas acordada.

(Vista do avião antes de pousar em Buenos Aires)


Chegando em Ushuaia:








O piloto avisa que estamos sobrevoando a patagônia, me desperto e logo vejo pela janela as montanhas cobertas pela neve, o tempo estava um pouco feio, mas lindo de se ver, só fiquei imaginando o frio que estaria lá embaixo.
Quando estamos pousando vejo que o tempo estava lindo, pouso tranquilo, hora de pegar o mochilão. Pego um táxi na porta do pequeno mais simpático aeroporto todo feito de madeira, parecia uma obra de arte, é uma mulher que me leva até o Hostel que fica apenas 5 minutos do aeroporto, mas mesmo assim o taxímetro roda MUITO rápido e pago $22 na corrida. Acho que entrei em um universo paralelo com aqueles ponteiros enlouquecidos. 
Sou recebida no Hostel La Posta por um simpático rapaz que agora não me recordo o nome. Ele fala um pouco de português, me leva até ao quarto, carrega a minha mala. O Hostel é grande e o quarto que iria dormir, fica no segundo pavimento da casa. Ele me mostra tudo e como funciona, ok, fazemos o check in e ele me dar um mapa e algumas sugestões do que fazer. Como estou exausta, vou apenas ao centro comer e comprar algumas coisa.

O Hostel fica um pouco longe do centro, 20 min caminhando, não é grande coisa, na ida porque é descida, mas na volta é bem cansativo. Do Hostel para o centro tem a opção de pegar um bus que passa de 15 em 15 minutos, mas quer saber, vou de Táxi !
A corrida até a av. San Martin custa $18 pesos e era mais longe que o aeroporto. Fico logo no início e vou caminhando durante a hora da siesta, procurar algum lugar para comer. E para a minha surpresa, não tem muitas opções de restaurantes e lanchonetes, mas tem uma infinitas opções de lojas para compras.
Encontro uma lanchonete e compro um hambúrguer, batata fritas e uma coca-cola, tudo por $40, caríssimo, mas é o que tem pra hoje.




Mesmo cansada resolvo logo ver o que tem pra comer e achar algum lugar para comprar água. O dia estava lindo e quero tirar fotos, mas como na Patagônia eles não usam mais sacolas plásticas, fico com muitas coisas nas mãos. Pego um táxi para voltar pro Hostel.












No mesmo quarto que é amplo, com boa calefação, mas as beliches são muito baixas, tem que ter cuidado para não levantar e bater a cabeça,  mas isso em toda a argentina, ou é baixo demais ou é alto demais. Café da manhã bem no estilo argentino, nada demais e sem opções. O wi-fi não pegava no quarto, mas como não tinha quase ninguém no hostel, ficávamos na cozinha usando o wi-fi quando precisava, as vezes o sinal chegava lá no quarto.
No quarto estava a Soyong da Coréia do Sul e o Alejandro da Costa Rica, que chegou tarde da noite.






Tierra del Fogo National Park:


Ao amanhecer eu não tinha ideia do que faria, apenas me arrumei e fiquei pensando, o Alejandro apareceu e eu perguntei o que ele faria. Ele iria para o Tierra del Fogo National Parque fazer um trekking, OPA! Posso ir com você???. 
Fui com ele, dividimos um taxi até o centro e depois dele comprar a passagem dele para Bariloche, fomos procurar onde saia as vans para o parque. 
Depois de perguntar 2 vezes, encontramos. 
O tempo estava feio e fico ansiosa se era uma boa ideia ir para o parque e pegar chuva com a minha câmera nas costas. 
Penso em desistir e ir para o Glaciar Martial, mas desisto da ideia e resolvo entrar logo na van e ir para o parque.
A menina explica que alguns pontos do parque estava fechado porque ainda tem muito gelo após o inverno rigoroso que tiveram, um taxista me disse que em um dia de Julho a neve chegou a 40 cm na rua principal da cidade e na sua porta.
A van custava $100 pesos ida e volta, só nós dois vamos na Van. 
Baixa temporada, não tem demanda foi



quase uma viagem vip.

Alejandro conta a história de porque ele estava viajando sozinho e o motorista da van logo se interessa por nossas histórias e conta várias sobre o lugar pelo caminho.
O Parque não é muito longe, mas a van precisa ir devagar por causa das pistas escorregadias. No total 40 minutos de viagem.
Chegamos no parque as 10h da manhã e o motorista diz que voltará para nos buscar as 16h.


O frio é forte demais e minhas luvas não dão conta, por sorte lá tem uma loja de suvenir e eu entro determinada a comprar uma luva, torcendo para o preço não ser muito absurdamente alto. Compro as luvas $50 e uma toca $25.

Agasalhada o suficiente, optamos em fazer a trilha do Hito 25, uma das 2 únicas abertas em segurança.
A trilha começa beirando o lago que de tão sereno parece um espelho refletindo as montanhas com neve no topo e as nuvens carregadas.
Mudamos a rota e vamos para dentro da floresta onde várias árvores estão caídas, quebradas, a neve fez um grande estrago. 
O visual as vezes lembra a cena de uma série de mistério e começo a fantasiar que algum ser da floresta vai aparecer a qualquer momento e ao mesmo tempo é tão bonito, um assustador e belo contraste.
No caminho encontramos com um pica-pau que não se incomoda com a nossa presença.

Não conversamos muito durante o trekking, o silêncio é muito precioso e muito bom sentir.
Em alguns pontos da trilha fica um pouco pesado e meio perigoso com as árvores no meio do caminho, passamos com cuidado para não cair em alguns trechos mas as quedas eram inevitáveis. 
Eu não cai, mas dei várias derrapadas como se estivesse em um chão com sabão, o Alejandro caiu 7 vezes.










Estou tão cansada e penso em desistir várias vezes, não tomei café da manhã então para comer um pouco e também para tirar fotos. 
Meu coração dá sinais de que já me esforcei demais e começo a querer parar, respiro e sigo em frente, e logo chegamos a nosso destino.
E parte de mim que queria desistir fica sem graça.  
A trilha termina na fronteira com o Chile, não podemos passar muito além disso, ficamos já felizes de chegar na fronteira com outro país.


Queríamos fazer a outra trilha que era muito mais difícil e levava 4 horas porque dizem ter uma vista incrível. Penso nas minhas atuais condições físicas e até rio de tentar tamanho abuso. 
Melhor ficar satisfeita com os 10km no meio de árvores estraçalhadas, galhos gigantescos, manobras ninjas, pulos no chão de sabão e o risco de se perder e ser encontrada congelada por algum ser da flores.
É, por hoje é só!

Voltamos e fui surpreendida por dezenas de águias enquanto eu tirava foto de uma, todas voaram quando eu me aproximei e não tinha nem por um minuto percebido que elas estavam repousavam tão próximo.
Estavam tão camufladas que não tinha as dezenas de gaviões que estavam fazendo uma reunião por ali.
Levei um enorme surto (os seres da floresta! Corre!!!)
Enquanto eu corria tudo parecia uma eternidade e de repente ri olhando como era lindo ao mesmo tempo a cena de eu correndo de agora talvez centenas de pássaros que poderiam me bicar até sangrar.
É sério, foi lindo.
Me senti sendo abençoada por aquelas asas sobre minhas cabeças e só torci para não levar as bicadas.



O motorista foi pontual e me buscou no restaurante do parque, perguntou se eu tinha gostado e onde estava o outro que estava comigo. O Alejandro tinha ido conhecer a outra trilha e pegamos ele no meio da estrada junto com um casal de brasileiros que tinha sido esquecidos pelo motorista que os trouxeram mais.
Na volta ele nos deixou bem na esquina do Hostel.
Detalhe importante, não pagamos os $80 que cobram para a entrada do parque pelo fato de ainda ser baixa temporada.
Levem comida, eu levei, mas mesmo assim ainda comi no restaurante uma empanada quentinha e uma coca latinha por $22.
Ao lado do Hostel tinha uma padaria que salvou para comprar água e algumas coisas de comer.
Estava exausta e queria dormir. Tomei um banho e apaguei as luzes cedo.


Glaciar Martial:



 
O hostel tinha uma vista do Glaciar Martial e todo dia eu olhava pra ele e pensava em ir conhecer queria ver neve, mas os dois primeiros dias não parecia ter muita neve por lá.
Não sei porque, mas de repente respirei fundo e senti uma voz sair de mim pedindo a pachamama que trouxesse neve para a minha alegria.
No dia seguinte acordei e a primeira coisa que fiz foi olhar pela janela as montanhas, tinha nevado de madrugada. Valeu Pachamama!!! 

O Glaciar fica bem perto do centro e do hostel, coisa de 15, 20 minutos leva mais tempo porque a subida é um pouco longa e lenta, cheias de curvas e escorregadia dependendo do clima.
Paguei $40 no táxi.
Estava nevando quando cheguei lá, fiquei muito feliz por isso, não esperava pegar neve em Setembro na Patagônia.
Como o tempo estava meio feio e era cedo ainda, resolvi fazer 1 hora de aula de esqui só para passar o tempo.
Total do aluguel de roupa, equipamento e aula $230.


O professor Hugo, um senhor em muita boa forma que parecia já acostumado com brasileiros era um personagem, tudo o que dizia era motivo de risos. Depois da aula ele me deu um passe para usar as pistas. Comi uma empanada e comprei uma água, porque suei bastante durante a aula e não tinha levado água. Total $16.
Comprei o bilhete para o teleférico $50, e subi. 
Que frio! Quase congelei, estava nevando muito e com uma brisa que cortava de tão gelada.
Chegando fui caminhar em cima do Glaciar, fui até um ponto onde eu pude ficar sozinha.
Sentei na neve e fiquei só admirando a beleza que estava diante dos meus olhos. Aquela terra branca, o silêncio, a paz. 
Acho que nunca tive um momento pleno de total contato com o universo e sentir eu mesma como esse. Sentada lá eu desliguei de tudo que era externo e era um sentimento de estranheza nos primeiros segundos, acompanhada de outros segundos onde sentia me desligar de tudo. De repente por muitos segundos e talvez primeira vez eu só respirei e existi, parecia que o tempo tinha parado e era vívido com o pouco que podia se mexer. Sabia que não era sonho pelo vento frio que batia nas minhas bochechas e ardia. Mas nem com isso meu corpo ou minha mente se importava.
Vieram os segundos de contemplação e me sentia com uma imensa sorte de sentir e viver aquele instante.
Vieram os segundos de agradecimento a pachamama por me ouvir e me fazer sentir sua presença como uma mãe brava e acolhedora.
Vieram os segundos onde me senti pertencendo a um lugar nesse grande planeta e sentir a solidão era estranhamente o melhor sentimento que poderia sentir naquele momento.
Vieram as lágrimas de alcançar finalmente a paz. Estava em paz, sabia o que era paz, vivia a paz. 
Não sei por quanto tempo fiquei lá, caminhando, tirando fotos e o céu foi abrindo, justamente enquanto eu sentia todos os segundos de coisas que era tudo e nada e de uma forma espiritual eu me sentia abençoada por Deus, deuses, deusas, espíritos e então o céu começou a se abrir bem na minha frente como se confirmasse sua incrível presença, uma luz brilhou e ofuscou por um instante os meus olhos que pasma e encantada admirava aquele céu azul saindo por trás das nuvens negras e pesadas. Uma vontade me levanta e me vem uma vontade espontânea de dançar com aqueles raios solares que me tocavam acalentando as bochechas geladas, um sorriso e uma gargalhada me domina, respiro e volto a dançar.


(meditação na neve)
Meu momento pleno durou um pouco mais de 30 minutos depois que o sol apareceu. Com ele vieram os curiosos que também ultrapassaram a placa onde dizia que a partir daquele lugar você estava por conta própria e existia o risco de cair em buracos e nunca ser encontrada até o gelo derreter. 
As vezes passava alguns loucos que tinham subido até onde dava na montanha e desciam com esqui ou Snowboard.
O tempo abriu lá embaixo também e podia ver um pouco da cidade, já no meio da tarde, com os meus pés já estavam úmidos e quase congelando resolvi descer para a cidade.


No centro:

(Cidade de Ushuaia vista de perto do mar)

Peguei um táxi e fui para o centro, ele me deixou em frente ao centro de informações turísticas, onde me deram um mapa e um folheto com o preço atualizado em reais, muitas informações e o famoso carimbo no passaporte.
Fui almoçar/lanchar no Ideal novamente, bem caro, mas pra variar era um dos únicos restaurantes abertos.
Um dia eu fui no Museu marítimo, mas não entrei, me assustei com o preço $90 era demais para um museu, mas dizem que vale apena.
Lá eu conheci o Leandro Tacha, conversamos e andamos até o hostel dele, por sinal um que eu tinha cogitado em ficar, mas não recordo o nome agora, me arrependi um pouco quando ele me contou da galera.
Tirando foto dos caranguejos gigantes que esqueci o nome, conheci um nativo chamado Cristian, universitário, queria só conversar comigo em inglês, porque não entendia o meu português. Me levou até o aeroporto, um outro que fica perto do porto, contou várias histórias da cidade, mitos, foi uma caminhada bem interessante. E nesse local tem uma vista ótima da cidade.

Pub Dublin:
(Cerveja verde)

Na noite de domingo eu fui para o PUB Dublin com o Alejandro, depois de um papo animado que tivemos enquanto usávamos os computadores do hostel, chegamos a conclusão de que não poderíamos ir embora sem uma noitada de cervejas. Experimentei a cerveja artesanal da casa,  é verde e muito boa. Pedimos uma pizza, mas não recomendo. Encontrei os brasileiros que conheci mais cedo no Glaciar.
Madrugada de domingo para segunda e nenhum táxi queria parar, o que nos obrigou a voltar a pé para o hostel, 25 minutos de caminhada embaixo do céu estrelado mas com um vento frio que se ficasse parado poderia congelar a espinha. Descemos contra o vento, eu com medo da estrada deserta, lembrei que um dos taxistas tinha me dito que não existia ninguém preso na cidade e o ultimo que tinha sido preso era um jovem que roubou a carteira da casa de uma senhora. Mas o sangue brasileiro continua ligado.  

Último dia:
(Glaciar martial visto da cidade)

Na manhã de segunda amanheceu com um tempo lindo, aberto, céu azul e sol, perfeito para fotos, não perdi tempo, sai ainda com um pão na mão e fui até o outro lado da rua que tinha uma vista da qual eu nunca me cansaria de olhar. Tirei várias fotos antes de voltar e pegar um táxi para o aeroporto, era hora de ir para El Calafate.




No aeroporto de Ushuaia você paga uma taxa de $38 para embarque, depois de fazer o check in é preciso pagar essa taxa.
Meu voo saiu antes do horário, mas eu estava lá.
Com aquela vista linda da janela, me despedi de Ushuaia, com uma certeza, quero voltar !


(cidade de Ushuaia vista de cima)